Será que quanto mais peso uma pessoa levantar mais músculos ela irá construir? Será que esta lógica é verdadeira?
Você entra em um ginásio de musculação,
olha ao redor e observa algumas poucas pessoas treinando, outras tantas
realizando algum tipo de outra atividade, como conversar, sentar e
ocupar aparelhos, entre outras coisas bastante “gentis” e começa a
perder a conta do número de indivíduos (e incluo as mulheres aqui
também) que conseguem erguer boas quantidades de peso. Aliás,
quantidades essas que muitas vezes fisiculturistas profissionais não
conseguem. Entretanto, também começa a contar – nos dedos – o número de
indivíduos que realmente apresentam um volume muscular com bela densidade e proporcionalidade.
Um paradoxo entra em sua mente, com um confusão: Como isso seria
possível? Se, por um lado vemos tantos indivíduos que são capazes de
realizar determinado trabalho com alta carga, então, porque não existem
pessoas “a rodo” realmente “lapidadas” em seu físico nesses e em outros
locais? É aí que começamos a pensar, pensar… E lembrar…
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Não quero parecer velho, mas, lembro-me
de meu tempos de escola primária, onde eu já apresentava uma forma
bastante arredondada, digamos assim, e adjacente, a qual chamava
bastante a atenção, inclusive dos médicos e nutricionistas pelos quais
eu passava… Enfim, apesar de todo sobrepeso, nunca tive lá grandes
dificuldades na realização de atividades físicas. Logicamente, tinha minhas limitações em flexibilidade, velocidade e, claro, capacidade de VO2,
mas, isso não me impedia de quase nada. Além disso, normalmente eu era o
indivíduo mais forte entre os coleguinhas de idade. Talvez, pelo maior
volume corpóreo e, talvez por alguma outra razão, como própria
capacidade fisiobiológica. Essa força, normalmente resultava,
primeiramente em respeito a mim (hahaha, brincadeira!) provavelmente das
capacidades genéticas mesmo e do tipo de brincadeiras que gostava
(lutas, esportes de força e assim por diante). Mas, se parássemos para
observar o restante dos coleguinhas mirrados, veríamos que, apesar de
menos fortes, eles possuíam um corpo relativamente mais proporcional do
que o meu. E não é a toa que nessa idade, ficamos mostrando os
“bicepzinhos” como “os homens fortes fazem” e os primeiros gominhos
no abdômen .. Bem, tenho certeza que você já deve ter visto algo
parecido ou presenciado, isto é, se não passou por algo assim, estando
de um lado ou de outro.
Essa ideia “hollywoodiana” da direta e necessária associação de força e densidade/volume muscular já é implícita há anos em nossa sociedade, quando, na verdade, a coisa na prática não acontece bem assim…
Mas, voltando ao assunto que nos interessa e que iniciei, sendo a
ligação entre o número de pessoas fortes e o número de pessoas
musculosas e “lapidadas” dentro dos ginásios, veremos o quão desigual é
esse número. Então, ligando ao fato dessa concepção “hollywoodiana”,
vemos a implícita forma com que pensamos que, erguendo grandes
quantidades de peso, conseguiremos um alto volume muscular. Mas, espera
aí, então estou dizendo que erguer quantidades grandes de peso não gera
crescimento muscular? Bem… Aí entramos em um paradigma entre o sim e o
não, o qual, na verdade, ambos estão corretos.
Quando falamos de força pura,
estamos falando de condições neuroadaptativas que possibilitam um
indivíduo realizar determinado trabalho que envolva a capacidade de
modificar a velocidade de um corpo através do vencimento de sua inércia,
podendo ou não também, causar algum tipo de deformação no mesmo.
Entretanto, quando falamos de volume muscular,
estamos nos referindo ao tamanho em que um indivíduo pode chegar em
condições também adaptativas, mas, mediadas por mecanismos um tanto
quanto diferentes. Esses mecanismos envolvem fatores não unicamente
genéticos e não unicamente fisiológicos, mas fatores relacionados a
forma de vida do mesmo também. Logicamente, as condições genéticas são
fatores limitantes ou possibilitantes para maior ou menor resultados e é
isso que muitas vezes define alguém que cria um corpo incrível. Depois,
os fatores fisiológicos, relacionados ao metabolismo e a forma com que
ele é manipulado de acordo com suas diferentes respostas também contam.
Estes, envolvem a forma com que ele treina, come, descansa… Por fim, os
fatores externos e do meio ambiente, fazem com que, dedicação, foco e
outros sejam de extrema importância para essa manipulação.
Basicamente, o crescimento muscular se dá por mecanismos hipertróficos,
ou seja, pelo aumento do tamanho das células e por mecanismos que,
ainda são controversos, mas, chamados de hiperplásicos, que constituem a
modificação de células “inertes” ou satélites para novas células
musculares, aumentando assim, não o tamanho, mas, o número de células em
determinado tecido.
O treinamento para um indivíduo que
busca força deve ser um tanto quanto diferente ao treinamento de um
indivíduo que busca o aumento significativo de massa muscular. É claro
que, mesmo para o aumento de força, é necessário que, através do
treinamento com sobrecargas, se aumente também a massa muscular, visto
que ela possibilitará um melhor desempenho, afinal, tecido contrátil faz
com que isso seja possível. Mas, esse aumento não necessita ser tão
aparente como no caso de um bodybuilder, por exemplo.
Já no caso do
indivíduo que deseja o aumento de massa muscular
de maneira significativa, a atenção para o volume e a intensidade do
trabalho com sobrecargas deve ser observado cuidadosamente, pois, pouco
volume/intensidade podem não gerar estímulo suficiente para que haja o
crescimento e, por outro lado o excesso destes resultará em
catabolismo do que
anabolismo.
Além disso, o fator alimentação e descanso adequados devem estar
associados mais precisamente, fornecendo os nutrientes necessários e os
substratos para que hajam as sínteses anteriormente citadas (hipertrofia
e hiperplasia) e tempo suficiente para que elas aconteçam. Então, tudo
isso já começa a nos explicar porque, nem sempre o indivíduo mais forte é
necessariamente o mais musculoso… – Não é a toa que powerlifters
possuem uma aparente massa muscular muito menor do que um boybuilder,
salvo condições geneticamente privilegiadas como atletas de força tais
quais
Derek Poundstone e
Mariusz Pudzianowiki.
Apesar da sobrecarga ser
indiscutivelmente necessária para o crescimento muscular pelos estímulos
que ela fornece, erguer pesos em grande quantidade não significará, em
primeiro lugar um maior grau de crescimento muscular: Faz-se preciso que
aquele músculo seja trabalhado, sofra contrações específicas, sofra
microlesões. Acontece que, na maioria dos casos que vemos, a preocupação
em levantar peso, supera o enfoque no músculo alvo. O resultado é que
recrutamos muito mais mecanismos do corpo e muito mais estruturas
(inclusive, de maneira incorreta, o que pode acarretar em uma bela
lesão) do que do próprio músculo.
Conclusão:
O trabalho muscular para a hipertrofia
deve ser especificamente avaliado e realizado de maneira adequada, não
se importando unicamente em erguer grandes cargas, mas, de associar o
treinamento que gere estímulos hipertróficos e hiperplásicos com uma
fornecimento de substratos necessários para que ocorra a hipertrofia e
hiperplasia de maneira adequada através de um tempo necessário, ou seja,
do descanso.
Portanto, sempre que entrar em um
ginásio com o intuito de construir massa muscular, pense em trabalhar o
músculo de maneira correta e não, simplesmente em erguer grandes
quantidades de pesos.
Bons treinos!
Artigo escrito por Marcelo Sendon