quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Diabetes mellitus 2: uma nova abordagem em exercícios

Diabetes tipo 2 é o estado crônico da hiperglicemia mantida em função de o corpo ser resistente à ação do hormônio insulina. · É considerada uma das doenças degenerativas mais graves, causando danos a todo o organismo como cegueira, amputações, disfunções sexuais, doença cardíaca, falência renal e pancreática. · A ciência reporta haver uma evidente relação entre o Diabetes 2 e o sobrepeso e o acúmulo de gordura visceral. · O emagrecimento é fundamental ao tratamento do diabetes 2. · A massa muscular é responsável pela captação de 80% da glicose sanguínea por mediação da insulina. · O aumento da massa muscular melhora o tratamento do diabetes por aumentar a quantidade do órgão que mais capta glicose do sangue, o músculo. · O treinamento de hipertrofia muscular tem sido muito mais proveitoso para o emagrecimento que outras metodologias de treino na musculação e que os aeróbios. · Exercícios intensos promovem alterações muito favoráveis em enzimas comprometidas pelo diabetes, melhorando o metabolismo geral do indivíduo e reduzindo a resistência ao hormônio insulina. · Uma das melhores estratégias para tratar o diabético 2 seria aliar um treinamento intenso de hipertrofia aliado a uma boa dieta para o emagrecimento, além do acompanhamento médico e fisioterápico e os auto-cuidados. · Não existe prescrição geral, mas sim, uma adaptação dos preceitos do treinamento às individualidades e limitações. · Como o diabético possui algumas restrições é imprescindível que o profissional tenha competência para lidar com o diabético de modo que o faça evoluir no tratamento de forma eficaz e responsável, assegurando a saúde. Diabetes 2: o que é? O Diabetes Mellitus é caracterizado como o estado crônico de hiperglicemia, ou seja, alta e constante concentração de açúcar no sangue. Isso pode ocorrer por dois motivos: a falta de produção do hormônio insulin, que induz o transporte da glicose do sangue para as células. Isso ocorre devido a um fato que chamamos de doença auto-imune. Nesse caso, o próprio organismo destrói as células do pâncreas que produzem a insulina, como se fossem algum tipo de organismo invasor, causando o Diabetes tipo 1. O Diabetes tipo 2 é causado pela intolerância à glicose. Nesse caso, o transporte e/ou metabolismo dessa molécula dentro das células não é eficiente, mesmo com quantidades normais de insulina. O Diabetes tipo 2 e é responsável por mais de 90% dos casos de diabetes e será o objeto de estudo deste artigo. Riscos O diabético pode apresentar nefropatia, com possível evolução para insuficiência renal; retinopatia que pode evoluir para cegueira; neuropatia com risco de úlceras nos pés; amputações; artropatia de Charcot e disfunção sexual. Além disso, há um aumento no risco de desenvolver doenças vasculares ateroscleróticas, como doença coronariana arterial periférica e vascular cerebral. Em longo prazo podem aparecer alterações vasculares que levam a disfunção, dano ou falência de vários órgãos, devido ao fato de a glicose em excesso danificar todos os tecidos que têm contato com ela. Como permanece no sangue, danifica tudo o que é irrigado pelo sistema circulatório, ou seja, todo o organismo, além de favorecer a ação de radicais livres (estresse oxidativo). Incidência Um estudo que avaliou populações de capitais brasileiras entre 1986 e 1988 revelou que 7,6% da amostra estudada sofria de diabetes, sendo que em São Paulo, o valor chegou a 9,7% da amostra. Com o aumento do sedentarismo, stress, e, alimentação inadequada, acredita-se que a doença seja mais incidente ainda. É mais comum entre adultos acima de 40 anos, porém, tem aumentado entre crianças e jovens. Causas e fisiologia do Diabetes 2 O Diabetes Mellitus tipo 2 é considerado uma das 10 principais causas de morte no mundo e é uma das patologias que compõe a síndrome metabólica, assim como, a hipertensão, as dislipidemias e a obesidade central e também tem uma íntima ligação com a quantidade de gordura corporal. Quanto mais gordura no corpo, principalmente, a gordura visceral, maior a resistência à ação do hormônio insulina, fazendo com que a glicose se acumule no sangue, gerando um estado de hiperglicemia crônica. O acúmulo de gordura vem acompanhado de mudanças na secreção de mediadores de resistência à insulina como níveis elevados de fator de necrose tumoral (TNF), Interleucina-6, outros pró-inflamatórios, da resistina, que dificulta o transporte de glicose para a célula e a baixos níveis de adiponectina que ajuda a combater a resistência à insulina. Outras causas estão relacionadas à baixas expressões de algumas enzimas, tornando o sedentarismo a principal causa do diabetes. O tecido muscular é o grande responsável por uma maior captação de glicose. Isso nos leva a evidenciar a importância em melhorar a composição corporal, reduzindo a gordura e aumentando a massa muscular a fim de promover uma melhor glicêmica, para um efetivo tratamento. Esse objetivo deve fazer parte do planejamento de intervenção, assim como o uso dos medicamentos prescritos pelo médico, os auto-cuidados e monitoramentos de glicemia. Tratamento Medicamentoso No caso do Diabetes 2, medicamentos hipoglicemiantes orais costumam ser mais utilizados que a insulinização. Dentre eles, podemos destacar as Sulfoniluréias e as meglitidinas, que são drogas que estimulam o pâncreas a fabricar mais insulina, as biguanidas, que diminuem a quantidade de glicose liberada pelo fígado; os inibidores de alfa-glicosidase que retardam a absorção de glicídios no intestino, as tiazolidinedionas que aumentam a sensibilidade à insulina.. Estes medicamentos são bastante eficazes no controle do diabetes, mas, muitas das vezes causam alguns desconfortos e podem provocar sobrecargas no organismo, se utilizados por muito tempo, por isso, atualmente, há uma tendência ao incentivo da insulinização. Dentre os possíveis efeitos colaterais de hipoglicemiantes orais podemos destacar: flatulência, dores abdominais, dores de cabeça, diarréia, ganho de peso, náuseas hipoglicemia, exaustão das células beta (produtoras de insulina no pâncreas), além de sobrecarga dos rins, fígado, a podendo, também, aumentar a incidência de doenças cardiovasculares. Ou seja, considerando que o diabetes é uma doença crônica e por si só já é muito degenerativa e os medicamentos orais também podem gerar sobrecargas no organismo, podendo potencializar o efeito devastador do Diabetes, além de desconfortos. Por um outro lado, a abolição dos remédios pode levar a um descontrole da doença, ameaçando a qualidade de vida e sobrevivência. Nesse contexto, é indispensável salientar a importância dos tratamentos sem efeitos colaterais: exercícios físicos e nutrição, podendo reduzir o uso de medicamentos no tratamento, melhorando o bem-estar, diminuindo os desconfortos, prolongando a vida e também, reduzindo os custos do tratamento. Exercícios físicos e nutrição adequada são o principal tratamento em DM2, mas infelizmente, tem sido pouco utilizados Emagrecimento e aumento da massa muscular, e musculação intensa no tratamento do Diabetes 2 Poucos autores na literatura científica aplicaram trabalhos com musculação intensa em diabéticos tipo 2 para avaliar sua eficácia. Em todos onde o protocolo utilizado era baseado em treinos para ganhos de massa muscular os resultados foram surpreendentes. Castañeda, em 2002, conseguiu melhoras significativas no controle glicêmico, diminuição do uso de medicamentos, redução na gordura abdominal, diminuição da pressão arterial sistólica e aumento de força e massa muscular com um protocolo com poucas séries de exercício, 3 vezes por semana, com 8 repetições máximas em cada série. No mesmo ano, Dunstan, conseguiu através de treinos semelhantes, aliado a um programa de melhoria da alimentação, melhorar o percentual da hemoglobina glicosilada (que é um indicador do nível de agressão da doença ao organismo e informa o controle da glicemia nos últimos 3 meses) e diminuiu a gordura abdominal, reduzindo o risco de complicações cardiovasculares. Cauza e seus colaboradores, em 2005, compararam os benefícios da musculação com o treinamento aeróbio contínuo no tratamento da DM. O treinamento de força consistiu em realizar 3 a 6 séries semanais para cada grupamento muscular com 10 a 15 repetições até a fadiga máxima, ajustando a carga ajustada cada vez que fosse possível ultrapassar 15 repetições. O treinamento aeróbio foi realizado durante 45 a 90 minutos semanais a 60% do VO2max. Os resultados demonstraram que os indicadores de diabetes (glicose sanguínea, hemoglobina glicosilada e teste de resistência à insulina) se mostraram mais reduzidos no grupo que praticou musculação. Inclusive os níveis de insulina plasmática melhoraram com a musculação, e até pioraram com o aeróbio. Além disso, houve uma diminuição significativa na pressão arterial melhoras na taxas de colesterol sanguíneo no grupo que realizou o treinamento de força. Com relação à composição corporal, o grupo que fez musculação ganhou 3,2 vezes mais massa muscular e perdeu 2 vezes mais gordura que o grupo que fez exercícios aeróbios, mostrando que um trabalho mais focado no emagrecimento e no aumento da massa muscular pode ser muito melhor para o tratamento do diabetes. O interessante é que a avaliação após o treinamento foi realizada alguns dias após o término do estudo, podendo assim, desprezar os efeitos agudas dos treinos, considerando apenas as melhoras crônicas no metabolismo. Isto sugeriu que as melhoras na glicemia e parâmetros de controle do diabetes através do exercício aeróbio perduram por poucos dias, enquanto as adaptações ao treino de musculação intensa são mais permanentes, o que pode ser explicado por algumas adaptações enzimáticas inerente aos treinos anaeróbios intensos. Enzimas do metabolismo dos carboidratos Há, também, uma relação entre algumas enzimas intracelulares e o diabetes. Uma delas é a hexocinase (HK), que enzima age fazendo com que a glicose que entra na célula não volte para o sangue. Outra enzima importante é a G6PDH, fundamental à produção de RNA e DNA, importantes na divisão celular, regeneração de tecidos e todas as respostas do metabolismo da célula, além de cumprir função no combate a radicais livres e no sistema imune. Essa enzima também não funciona de modo adequado em indivíduos com hiperglicemia constante. Com pouca glicose na célula (e muita no sangue) todo o metabolismo da célula fica comprometido. Porém, sabe-se que os exercícios anaeróbios intervalados (sprints) fazem com que a expressão da enzima HK aumente em muito. Considerando que a indústria farmacêutica vem utilizando formas de induzir geneticamente uma maior produção dessa enzima com bastante sucesso no tratamento do diabetes, acredita-se que treinos anaeróbios possam gerar o mesmo benefício, com um custo mais baixo, além de promover melhoras no sistema nervoso, locomotor, e cardiorrespiratório, incluindo o alto poder de emagrecimento. Com um bom funcionamento da HK e maior presença de glicose na célula, o funcionamento se torna normalizado, também, em relação à enzima G6PDH, melhorando a regeneração de tecidos, respostas metabólicas e imunes, e combate à espécies reativas de oxigênio (radicais livres), reduzindo o risco de doenças cadrdiovasculares. Conclusões Existem outros trabalhos mostrando que uma simples sessão de exercícios, sejam eles aeróbios ou na musculação, podem reduzir as taxas de glicose sanguínea por até 48h, alguns até com resultados mais positivos para os exercícios leves. Logo, é prudente afirmar que todos os exercícios podem gerar benefícios aos diabéticos. Porém, se a intervenção não atingir raiz do problema, que normalmente está no excesso de gordura corporal, na falta de massa muscular, e no mal funcionamento das enzimas musculares, a estratégia pode não ser a melhor. A caminhada pode baixar mais a glicose em 48h que uma sessão de treinamento intenso na musculação ou um treino intervalado de corrida, porém, dificilmente fará com que o indivíduo emagreça, ganhe músculos ou melhore suas vias metabólicas, tratando o sintoma, porém, não revertendo o quadro de doença. Logo, o treinamento intenso é mais proveitoso para o diabético, porém, existem algumas limitações na intervenção, o que o torna um trabalho muito delicado e deve ser executado por profissionais habilidosos. Vale lembrar que: contratar um bom treinador não substitui bons nutricionistas e bons médicos, nem bons fisioterapeutas e psicólogos, quando for o caso.

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